sábado, 12 de dezembro de 2009

Revelação

Trago na ponta do dedo um coração vermelho. É a minha varinha antiilusão. Com ela encanto as obras do rei Midas: todo ouro vira voo. E no labirinto da perdição faço chifre de monstro bouquet de arco-íris. Eis o irreverente mistério da fé.
As cores brotam do coração. São ervas daninhas que entrelaçam o fogo. Se aponto pruma estrela rasgo o céu com múltiplos pecados. Pecados ardem para serem libertados.
Arte é a deusa dos pecadores. E sou seu fiel devoto: Amor é minhacor.

sábado, 1 de agosto de 2009

Resolução

Resolvi reescrever.
Não, pensando bem não é isso: Me resolveram a reescrever. Do terreno fértil da amizade me refincaram no plano da literatura tentada. Sim, tentei, mas os frutos não vingaram, cai e pouco voei.
Aliás, de lá a cá não voei, fui voado. Um pouco Lyon, um pouco Maputo, um pouco Reikjavik, um pouco Capão Redondo, um pouco Barcelona, um pouco Abbey Road. Passaram-me por tantos terrenos que já não sei quem sou. Na verdade, nunca soube.
Sei todavia que meus fragmentos revoltam-se e transitam na caótica urgência do amor. Em cacos, a resistência frustrada de mim rodopia na sarjeta, cantagrita inseminando-se de vento e passado. Jamais tombarei meus pés, isto é o certo.
Foi pelos pés que me retornaram. Assim, não há jeito : sou prisioneiro da escrita, e fielmente represa por conta dos meus outros. E reinicio deste jeito, partindo-me em outros.
Afinal,
Eu sou multidão.